Hoje dediquei-me à leitura de Álvaro de Campos e encontrei uma poesia, que no meu entender, tem muito a ver comigo, em diversas fases da minha Vida. Vou deixar aqui um pequeno excerto, pois realmente nunca tinha lido um poema tão longo como este.
Estas partes do poema sou Eu, e isso para mim é importante, espero que vos dê alguma curiosidade em ler, mas se estiverem interessados em ver na íntegra, aconselho-vos...respirem fundo...e, arranjem uns 12 minutos para ler o verdadeiro!!!
Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, Todos os portos a que cheguei, Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias, Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei... Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos... Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti, Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me, Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge, Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso, Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas, Desta angústia no fundo de todos os prazeres...
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços, É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas... Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro, Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca... Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai. Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se. Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver. Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente. Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Sentir tudo de todas as maneiras, Viver tudo de todos os lados, Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
(Álvaro de Campos)
10 comentários:
Oi Kalinka :)
Que explêndida selecção...
O turbilhão de mensagens seguem-se a uma velocidade alucinante mesmo...
Começando a ler quase que me senti a precipitar para a visualização seguinte... Tem de ser lido na íntegra sim...
Beijocas e até já...
Belo este poema:)
Oi Kalinka...
Álvaro de Campos... um dos heterónimos de Fernando Pessoa...o meu poeta preferido...
perco-me em todos os escritos dele...Obrigada por esta escolha...
Bjs para ti
Oi Dilbert....
Sabes que só agora é que vi o teu desafio... ??? recebi o convite e nem percebi o que era... então vim espreitar...
Fico orgulhosa do convite... mas não sei não.... tenho tão pouco tempo disponível....tenho responsabilidades em outros locais como sabes...tenho de pensar...
Bjs
Oi Isabel...
Vá lá... junta-te a nós... não há obrigatoriedade de postar sempre... uma vez ou outra é suficiente :)
Sei que tens responsabilidades noutro local que é bem lindo por sinal... esse não pode nunca ser prejudicado... mas, uma vez por outra... e num estilo se quiseres até diferente... postavas aqui (à laia de ensaios que quisesses fazer...). Espero um sim :)
Beijocas e até já...
Dilbert:
Fico tão feliz quando recebo um elogio assim, tão cheio de euforia da tua parte...Realmente teve k ser muito bem seleccionado, pois tu não imaginas o tamanho dele, eu disse 12m para o ler na íntegra, mas depois fui ver outra vez e para ler como deve ser, com calma, entendendo cada parágrafo, não quero exagerar mas vai aos 20 minutos, experimenta e verás!!!
É mesmo uma velocidade alucinante de gestos, palavras, imagens que nos passam pela retina. Adorei. Bjs
Wind:
Muito obrigada pela sua apreciação, eu pelo menos tento gostar primeiro para depois dar o prazer de ler aos outros...e, deu resultado. Apareça sempre k quiser.
Isabel:
Que bom saber que é o teu preferido, sinto-me realizada interiormente quando consigo fazer os outros felizes!!!
Parece que foi o teu caso, ainda bem que fiz uma BOA ESCOLHA.
Vou continuar a tentar fazer felizes os que me lêem. Beijos e boa noite de descanso.
Kalinka
Se as minhas escolhas são boas, as tuas são excelentes. Algo se compara à poesia de Pessoa?
Gostei muito que voltasses à Encosta, e da forma como analisaste o poema que lá deixei. Obrigada. Tem uma boa noite... e como diz o Dilbert... até já!
Oi Kalinka, que feliz que fiquei por ter lido este poema e por ele te espelhar ... muitos parabéns por teres as amarras soltas.
Que sejas sempre livre como o vento e que a liberdade te conduza sempre às melhores paragens e aos portos mais seguros ...
Beijo Gordo e Encaracolado
Até já ..
~:o)
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