Passeio

Os passos desciam lentos os degraus do Mont des Arts, os sentidos perdidos ao longe na agulha da Câmara Municipal.
Cruzou o jardim de mãos nos bolsos e decide sentar-se no segundo lance de degraus para ver as acrobacias em skates e patins em linha. Uma menininha prende-lhe a atenção: tão pequenina e tão decidida a lançar o skate, a saltar-lhe para cima. Os adolescentes de calças largas e atacadores desapertados saem do caminho, ajeitam-lhe a pesada prancha para os saltos. Sorriem àquela boneca de ti-shirt verde demasiado grande que cai e se levanta como qualquer um deles! É uma espécie de mascote.
Um grupo de turistas japoneses cruza, desprevenido, o terreno em direcção à Grand-Place: aqui não há nada a fotografar!
Ela segue-os com o olhar e imita-lhes o percurso; afinal, porque não? A Grand-Place, onde nunca se vai porque já tanto se foi tem sempre um ar de novidade. Talvez pela quantidade de gente que a olha maravilhada como ela o fez na primeira vez, com tudo o é na primeira vez.
Praça imponente, toda ela, contornada por edifícios rendilhados e cheios de história que agora albergam cafés e vendas de chocolates e de rendas de Bruxelas.
Senta-se no Roi d’Espagne para um chocolate quente e para admirar esta multitude de raças e cores que coreografam um bailado de avanços e recuos, que procuram os melhores enquadramentos numa praça difícil de fotografar.
Perto, umas vozes despertam-lhe a atenção em código conhecido: perguntam-se em português, dedo espetado no pequeno mapa de bolso, E o Mannequin Pis onde é?
E acabou o chocolate quente embalando as saudades que sentia.