África Dela
Eu nunca tive uma casa em África
mas Niza teve.
Nunca vi os pássaros alvorecendo no céu ateado de luz
mas Niza viu.
Nunca andei na longa estrada com os pés encarnados molhados de terra
mas a Niza andou.
Nunca senti o cacimbo arrefecendo a madrugada azul do palmar
mas a Niza sentiu.
Nunca brinquei com o macaco pequeno no dia dos meus anos
mas a Niza brincou.
Nunca comi o fruto da mangueira doce de sol e açúcar
mas a Niza comeu.
Nunca corri nas imensidões de areia acelerado sobre a rebentação
mas a Niza correu.
Nunca ouvi o batuque avançado descontrolado pelo meu corpo
mas a Niza ouviu.
Nunca descansei à sombra da árvore grande
mas a Niza descansou
Nunca cheirei o fogo espalhando a terra e o vento
mas a Niza cheirou.
Eu nunca voltei a África
mas a Niza regressou.
Fernando Camecelha
(Prefácio do Livro Volta à Zambézia, de Niza Paiva)
Este poema encontrei-o no Blog Livro e Autores , e não resisti a ilustrá-lo. De tudo o que o poema diz, e que não me aconteceu, é que eu não voltei a África.
2007-07-16
África Minha
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3 comentários:
Lindo!
O poema trás à memória lembranças do interior, do tropicalismo, do sol, do pomar de árvores frutíferas...Como é bom o cheiro do mato!
Grande beijo para tí! Boa semana e que Deus te ilumine minha nobre amiga!
São as emoções/recordação de África, que eu também conheci.
Um abraço. Augusto
O poema é muito bonito.
A ilustração está espetacular :)
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