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2005-11-19

Mais uma Vida que se perdeu...

É verdade, infelizmente, mais uma Vida que se perdeu e de um português com uma filha pequena que deixa uma triste viúva com a sua criança abandonadas e sem qualquer apoio do Estado Português...
Pois é, as coisas são mesmo assim. O sentido de Estado. E o sentido da Vida.

A odisseia deixou de ser um mero bivaque escutista, uma excursão, um pic-nic para comer mais um chouriço assado, uns bacalhauzecos ou sardinhada regada a tintol à beira do deserto e arrematar mais uns cobres...

Porque é que se fez então o 25 de Abril de 1974?
Antes, os jovens qual feito iniciático, sujeitavam-se a essa prova, mas na defesa de algo que se interiorizava como um ideal supremo, algo Nacional, seu, de todos. Uma missão quase divina, a de 'defender solo pátrio'.
Cada mina e emboscada que ceifava mais umas quantas vidas e estropiava outras, dilacerava famílias e o tecido Nacional, era sentida por toda a Nação como um todo. Havia um sentido, um SENTIR, e umobjectivo estratégico: a prossecução da projecção de Portugal no Globo, como um todo, no Espaço e no Tempo.
Depois... Depois:

A morte banalizou-se. Quer na TV e grande écran, trazida em directo à hora das refeições.
Quer nas estradas sangrentas que passaram afinal a chacinar mais que as picadas africanas.
Mas agora já ninguém se importa com números e estatísticas.
Todos babadinhos, alcandorados e escudados em alumínio e circuitos integrados a bordo do novo símbolo fálico - o omnipresente automóvel, outra das conquistas de Abril - sentimo-nos os novos senhores do Mundo.

Qual Mundo? Qual Senhores?
E das cisões e conflitos adormecidos à pala da Guerra Fria na Velha Europa e que logo ressuscitam desde 1989, aprendemos de novo o sabor da guerra, envolvendo-nos em batalhas e policiamentos por procuração, como OPVDCs do términus do século XX e XXI junto dos novos bárbaros. Esquecemos missões sagradas e solo pátrio e deixamo-nos arregimentar para guardas pretorianas a soldo de outrém. Chame-se o teatro sanguinolento Bósnia, Iraque ou Afeganistão.

Como o novo Cronos do mito que devora os próprios filhos, o novo império planetário cria monstros que destrói logo a seguir. Noriegas, Saddams, Bin Ladens... Das alianças e divergências entre as 'dinastias' e 'casas' Bush e Saud (em Ryadh), irradiam ameaças planetárias, artificializam-se papões.
Por todos os meios atira-se areia para os olhos, e areia ali, no Oriente Médio, é coisa que não falta. Encobre-se o cerne da questão. Que o novo fundamentalismo, só surge, porque em 1948 o império britânico organizou a fundação do estado de Israel, e nas décadas anteriores se dividiu e mal o mapa de toda a região, se humilhou tribos, clãs, povos.

Por mais que se fale em Democracia, Civilização, Desenvolvimento, não radica apenas aí a raiz do problema.
E a Europa, e com ela Portugal, deixaram-se arrastar para este novo gigantesco teatro.

Fomos manipulados, levados a crer que temos, devemos, vamos derrotar o Terrorismo. E oh ventos da História que tão lestos passam... já todos se esqueceram da Setembro Negro, da OLP dos primeiros tempos, como o terrorista de ontem é o interlocutor de hoje, o estadista de amanhã. Desde o Arafat, ao Agostinho Neto, ao Samora Machel... quantos 'turras' transmutados pelos ventos da História?!!!

É só uma questão de espera, de aguentar o elástico das eras, a mola da História. Para isso servem os soldados, os mártires e os inocentes, ceifados em qualquer emboscada, batalha ou atentado.
Permitir que os políticos cheguem a uma nova acomodação.
É para isso que hoje, soldados portugueses perecem no Afeganistão.

E, mais que tudo, em qualquer missão grandiosa ou pátria, mas, pasme-se, tão só, por um punhado de lentilhas, imbuídos de um espírito mercantilista e mercenário, que nada de real defenderá em termos de interesses e solo pátrio.

Antes pelo contrário, novas ameaças avolumarão, para dentro das nossas fronteiras.

10 comentários:

Su disse...

obgda pelo texto
gostei de ler-te; gostei de ficar pensando/refectindo
jocas maradas

Que Bem Cheira A Maresia disse...

Gostei muito do que li e sabes, gostei muito de te conhecer, ja te tinha dito? :)

Bom domingo

Beijoka da Lina

Dilbert disse...

Este teu Post deixou-me a reflectir sobre uma quantidade de coisas... por vezes, infelizmente, perdemo-nos a pensar nos nossos pequenos problemas do dia a dia e esquecemo-nos de dedicar a atenção necessária à perspectiva completa... que cada vez se vai tornando mais negra... precisamos mudar isto, sem dúvida, cada um de nós conta....
Beijokinhas Kalinka, uma óptima semana para ti

Pitucha disse...

Um post que dá que pensar! Reflectido e equilibrado. Obrigada Kalinka por assim abordares estes temas, sem demagogia, nem frases feitas.
Beijos

Mauro Paz disse...

Muito bem feito oseu blog... certamente passarei por aqui mais vezes. Parabéns.

Que Bem Cheira A Maresia disse...

Olá :)

Vem brindar connosco, vens? ;)

Beijinhos

Kalinka disse...

MAR REVOLTO/MAR AZUL:

Apenas venho esclarecer que eu não sou o Dilbert, por isso o teu comentário é dirigido a ELE e não a quem colocou este «post»...sou uma mera colaboradora do blog «Confessionário do Dilbert».

Kalinka disse...

MAURO PAZ:

Este não é o meu blog...
este é «Confessionário do Dilbert» e eu sou apenas uma mera colaboradora que de vez em quando aqui vem «postar».
No entanto, não deixa de ter razão, este blog está muito bem feito e pode continuar a visitá-lo.

Se quiser visitar o meu, também fico grata, mas o meu é «kalinka».
Obrigado pelo comentário.

requiescatinpacem disse...

E pronto... aqui continua tudo na mesma..

Já agora parabéns.. seja lá pelo que for

Dilbert disse...

Oi Kalinka,
Já agora aproveitava para te sugerir a leitura e a perspectiva de um Post sobre o mesmo assunto da blogger ViverEmSegredo... o URL é: http://viveremsegredo.blogspot.com/2005/11/no-consigo-pensar-em-outra-coisa.html
Beijinhos